Da séria série “Falando Sério”: Episódio III
Sempre que penso em política eu me lembro de pronto das aulas onde viajávamos no tempo para conhecer o jeito grego de administrar a cidade de forma democrática, o cenário das decisões comunitárias, decididas nas praças, sob a orientação dos líderes respeitados por todos. Falar de ética, por sua vez, me remete imediatamente ao conceito de moral, de certo e de errado na nossa conduta, na nossa maneira de agir. Invariavelmente, na prática, associamos a ética, não ao estudo filosófico dos julgamentos de valor, da relação entre o bem e o mal, mas à boa conduta, ao certo, ao correto.
Essas podem não ser exatamente as definições mais aceitas, claras ou mesmo objetivas, tão pouco filosóficas, de ética e de política. Tal relação é tema infindável, largamente discutida por estudiosos indiscutivelmente mais dedicados do que eu. Mas acho que esses pensamentos simplistas refletem a pureza do que esperamos ou, ao menos gostaríamos de esperar, da arte política moderna: uma atuação orientada, primordialmente, pelo que é o certo a ser feito para o bem–estar comum.
Acredito que a nossa maior dificuldade está em descobrir como recuperar a linha limítrofe entre o certo e errado a patamares realmente razoáveis e não mais apenas aceitáveis. Nossa sociedade deixou essa linha tornar-se elástica demais. Aceitamos e toleramos cada vez mais práticas inadequadas de forma que acabamos por legitimá-las. Com isso, tristemente perdemos o jeito de como corrigir tal deslize. Como pais que não conseguem dizer não a seus filhos depois de anos de mimos. Resta apenas o desespero interior frente a uma impotência cuja causa pode até ser negada, mas nunca é realmente desconhecida.
Somos os principais culpados pelas práticas imorais de nossos governantes. Coloquialmente, somos co-responsáveis pela falta de ética na política. O que fazer para mudar? Pensar. Re-pensar. De alguma forma, precisamos primordialmente recuperar o respeito pelo próximo e reconstruir nossos valores morais e, conseqüentemente, nossos conceitos de certo e errado em várias práticas cotidianas, de cidadania e civilidade, para que possamos saber exatamente o que cobrar daqueles que devem nos representar para legislar e governar. Quem sabe assim faremos com que ética e política deixem de ter aspectos tão contraditórios e antagônicos e passem a ser, não em sonho, mas corriqueiramente, um pleonasmo?
A listagem com os participantes da Blogagem Coletiva está aqui.
PS: Beijo para a Laura pela iniciativa.
6 comentários:
Excelente teu post. Obrigada, vou recomendar aos amigos. Bj laura
Cláudia,
excelente e pertinente o seu texto. Parabéns!
Também acredito que para fazermos uma revolução devemos começar pelo nosso interior. O mais difícil é aceitarmos nossa responsabilidade em todas as ações, públicas ou privadas. Uma vez aceita, podemos repensar nossa honestidade e o respeito pelo próximo. Aí sim, estaremos prontos a assumir o comprometimento perante todos, pois ele nos dará forças para iniciar mudanças.
Claudia
A crise da questão política é na sua origem mais uma crise moral de nossa instituição mais básica que vem a ser a família.A família hoje em dia se encontra deteriorada porque dentro de um contexto de sobrevivência é mais importante para seu chefe a oportunidade de alimentar a todo custo seus entes queridos, nem que para isso seja necessário afrontar limites éticos ou de honestidade.
A partir do momento em que vemos e nos resignamos a considerar como um mal menor que determinado cidadão meta sua mão em um dinheiro público desde que ele nos conceda favores ou nos ajude de alguma maneira, é hora de repensarmos toda nossa cultura e forma de cidadania.
Vejo a ética como um exercício diário movido por atos cotidianos espelhados em exemplos vistos e praticados por pessoas de sua relação ou divulgados na mídia.E nesse ponto já faço mais uma observação pois temos sim exemplos dignos de serem mostrados ao grande público, mas na realidade não o são, pois não vendem jornais, revistas e nem alavancam ibope.
Insisto em afirmar que enquanto não dotarmos nosso povo de uma qualidade de vida digna sem que para isso utilizemos o bom e velho clientelismo ( vide bolsa família, etc ), nunca iremos ter em nosso País condições de cobrarmos princípios éticos, morais e por aí afora.
Mas tudo, ressalto, começa por uma boa e velha discussão, pois senão o caminho mais natural e interessante a aqueles de sempre, é varrer a sujeira para debaixo do tapete e com isso manter a ignorância do povo.
Grande beijo, muito grande, mais grande mesmo :)
por uma ética-asséptica. Nossa, que redundaãncia! bj
Ótimo texto, Cláudia.
Nosso país anda sofrendo de males profundos, daqueles tipos que, de tão arraigados, nem conseguimos mais definir suas origens. O fato é que ética e honestidade estão "fora de moda" e já não fazem parte do padrão de comportamento do brasileiro de uma forma geral.
Acompanhando as últimas pesquisas eleitorais, que indicam ainda uma vitória de Lula no primeiro turno, chego a me perguntar se seu comportamento não lhe traz um certo "status" de esperto e safo. Para os princípios mal formados da grande parte da população, ele deve ser considerado um "sujeito de sucesso" por nunca ter estudado e chegado onde chegou e por sempre sair incólume das bandalheiras em que se mete.
Se esta minha impressão procede, então estamos todos em maus lençóis.
Beijos.
Olá Claudia, passei por conta da Blogagem da Laura. Vc tem toda a razão, nosas mazelas são resultado de nossas (más)ações passadas e presentes. Reverte-las é preciso, e resultados, somente para bisnetos. Mas, será que ainda dá tempo? E de quanto tempo precisaríamos? Venho te visitar com mais calma. Abraços!
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