A cabeça dói. Não tem remédio que dê jeito. Vontade de quebrá-la contra a parede. Se lembra da infância, quando alguém brincou que o melhor remédio para dores de cabeça era um bom pisão no pé. Ela – que ri de tudo – não consegue sequer rir da lembrança da tolice. Ele a havia tirado da zona de conforto. Na verdade lhe fez esquecer todas as suas defesas. E a quebrou no meio como um graveto velho. Noite após noite ela se recusava a admitir toda essa dor. Foi um caso rápido. Intenso mas rápido. [A câmera foca os olhos. O olhar da atriz deve expressar súbito esclarecimento] O pisão no pé. Pega o celular. Disca números que achava que nunca mais discaria. Números que a fariam mal. Mas que a fariam sentir alguma coisa. Números que não apenas pisariam no seu pé. Iriam arrancá-lo. E, assim, fariam sua enxaqueca magicamente desaparecer. [A câmera agora mostra um sorriso tímido de satisfação] Com pisão no pé ela sabe lidar.
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