segunda-feira, 30 de agosto de 2010

MotoFAIL

Nunca neguei que sou aficcionada por conectividade e completamente viciada nos produtos Google. Assim, enquanto não consegui um telefone com Android, eu não sosseguei. Em junho ganhei um Dext da minha operadora. Como sempre optei por adquirir o celular na operadora para evitar problemas de suporte e etc e como eles não tinham o Milestone para oferecer, descartei a compra deste no varejo, pesquisei a aceitação do Dext e levei o aparelho alegre e sorridente para casa.

Consegui configurar e me familiarizar com praticamente todos os recursos do aparelho. Não sei se o mérito disso é do aparelho ou do Android. Estava feliz da vida até que o telefone travou com menos de um mês de uso. Desligava, ligava, tirava bateria, religava e nada de sair da tela inicial. Obviamente que na operadora não identificaram o problema. Entrei em contato com a Motorola via chat e o atendente também não soube dizer do que se tratava. Eu teria que levá-lo a uma Autorizada. Acontece que não tem Autorizada na minha cidade. Eles tem apenas um “posto de coleta” onde eu deveria deixar o aparelho para que, depois de alguns dias, ele finalmente chegasse à autorizada e fosse então analisado. Ou seja, previsão de 15 dias sem telefone.

Fui para a internet e descobri que outros proprietários tiveram o mesmo problema e resolveram com um boot no celular. Ele voltaria zerado - com as configurações de fábrica -  mas, considerando que ele também voltaria assim da autorizada e que o MotoBlur prometia ter backup ao menos dos meus contatos, resolvi encarar o procedimento. Lindo! Problema resolvido e aplicativos reinstalados. Um mês depois ele travou novamente. Refiz o tal boot e zerei novamente o aparelho. Novamente entrei em contato via chat com a Motorola e perguntei sobre a atualização ao menos para a versão 1.6 já defasada, pois achava que assim talvez esses travamentos poderiam ser resolvidos. Nada. Se eu tentar atualizar pelo próprio aparelho, a resposta é que não há atualização a ser feita. Já estava bem insatisfeita com 2 boots em 2 meses de uso e a insuficiente versão 1.5 quando a Motorola resolveu me esbofetear³ dizendo que eu, latino-americana, não era uma cliente que eles queriam preservar: anunciaram que nenhum aparelho Milestone, Dext ou Backflip no Brasil receberia o upgrade para a versão 2.2 do Android (sequer citaram o Quench).

A explicação da empresa foi que não havia interesse dos usuários na atualização. Ou seja eu, que sou sempre alpha user, que não economizo em aparelhos desde que o celular virou artigo de uso pessoal e que aprendi procedimentos que nem o suporte a online da Motorola é capaz de realizar remotamente, não teria interesse no upgrade? Francamente. Após vários protestos em blogs, Orkut, Facebook, Twitter e notícias da mídia tradicional, a Motorola resolveu rever a decisão, mas apenas para o Milestone. Nem o Dext nem o Backflip teriam hardware que suportariam a nova versão e mesmo assim não receberão nem mesmo a 2.1 (em janeiro a Motorola havia dito na CES que esse mesmo upgrade do Dext aconteceria "o mais cedo possível"²). O curioso é que a atualização do Dext para a versão 2.1 nos EUA, Canadá e na Ásia está ao menos sendo avaliada. Não me chame de burra, Sr. Edson Bortolli¹.

Eu já tive um Motorola antes da geração GSM. Não fedia nem cheirava. Foi clonado e devidamente substituído pela operadora do celular. Mas eu via tanta gente reclamando tanto, que eu fiquei bastante cabreira em relação aos aparelhos da Motorola e acabava sempre descartando o fabricante das minhas escolhas. Achei que a chegada do Android e os lancamentos do Dext e do Milestone seriam uma redenção da marca. Ledo engano. Com 3 meses de Dext estou decidida a trocar imediatamente de aparelho. Continuarei com o Android mas nunca mais compro Motorola. Errar uma vez é engano. Duas é burrice.

(¹) Diretor de produtos móveis da Motorola Brasil
(²) Existe um Tutorial no Gizmodo para quem quiser arricar a atualização não-oficial e, no caso da Claro, perdendo o 3G.
(³) A notícia inicial chegou até mim pelo Blog do The Best.
A imagem usada no post vem do twitter @motoFAIL_BR

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre o fim, muralhas e aberturas

Caro Richard. 

É muito difícil saber como e por onde começar. Estive pensando por muito tempo e a fundo, através de muitas idéias, tentando encontrar um meio.. Finalmente me ocorreu uma pequena idéia, uma metáfora musical, através da qual pude pensar claramente e encontrar a compreensão, se não mesmo a satisfação. Quero partilhá-la com você. Assim, por favor, peço que me tolere, enquanto passamos por outra lição musical. A forma mais comumente usada para as grandes obras clássicas é a da sonata. É a base de quase todas as sinfonias e concertos. Consiste em três partes principais: a exposição ou abertura, em que pequenas idéias, temas e miscelâneas diversas são lançados e apresentados uns aos outros; o desenvolvimento, em que essas pequenas idéias e motivos são explorados ao máximo, expandidos, muitas vezes passando do tom maior (feliz) para menor (infeliz) e voltando sendo desenvolvidos e entrelaçados em complexidade maior, até que finalmente vem a recapitulação, em que existe uma reapresentação, uma gloriosa expressão da maturidade plena e rica que as pequenas idéias não alcançam através do processo de desenvolvimento. Você pode se perguntar como isso se aplica a nós, se ainda não percebeu. Eu nos vejo embatucados numa abertura interminável. A principio, foi a coisa real, pura delicia. É a parte de um relacionamento em que a pessoa se mostra em seu melhor: divertida, encantadora, excitante, excitada, interessante, interessada. É um tempo em que à pessoa se sente mais tranqüila e mais cativante, porque não experimenta a necessidade de levantar suas defesas; assim, o parceiro aconchega um ser humano afetuoso, ao invés de um cacto gigantesco. É um tempo de prazer para ambos e não é de se admirar que você goste tanto de aberturas que se empenhe em tornar a sua vida uma sucessão delas. 

Mas os primórdios não podem ser prolongados interminavelmente; não podem simplesmente serem expostos e re-expostos. Devem seguir adiante e se desenvolverem, ou morrer de tédio. Não é assim, você diz. Deve se afastar, ter mudanças, outras pessoas, outros lugares, a fim de que possa voltar a um relacionamento como se fosse novo, para ter constantes princípios novos. Nós seguimos adiante numa sucessão prolongada de reaberturas. Algumas foram causadas por separações profissionais que eram necessárias, mas se mostraram desnecessariamente duras e rigorosas para duas pessoas tão chegadas como nós. Algumas foram fabricadas por você, a fim de dispor de mais oportunidades de voltar à novidade que tanto deseja. Obviamente, a parte do desenvolvimento é uma anátema para você. Pois é a parte em que você pode descobrir que tudo que possui é uma coletânea de idéias bastante limitadas que não funcionam, não importa quanta criatividade lhes acrescente. Não resta a menor duvida de que fomos muito mais longe do que você jamais tencionou. E paramos pouco antes do que eu considerava como nossos próximos passos, lógicos e maravilhosos. Tenho testemunhado o desenvolvimento com você continuamente contido, passei a acreditar que nunca faremos mais que tentativas esporádicas em nosso potencial de aprendizado, em nossas espantosas similaridades de interesses, não importa quantos anos possamos ter, porque nunca teremos um tempo ininterruptos juntos. Assim, torna-se impossível o crescimento que tanto prezo e sei que é possível. 

Ambos tivemos uma visão de algo maravilhoso que nos aguardara. Contudo, não podemos chegar lá, a partir do ponto em que nos encontramos. Estou diante de uma sólida muralha de defesas e você tem necessidade de construir mais e mais. Anseio pela plenitude do desenvolvimento adicional e você procurará meios de evitá-lo, enquanto estivemos juntos. Nós dois ficamos frustrados; você é incapaz de voltar, e eu incapaz de seguir adiante, num estado de constante luta, com nuvens e sombras escuras sobre o tempo limitado que você nos concede. Sentir a sua constante resistência a mim, ao crescimento deste algo maravilhoso, como se eu e isso fôssemos alguma coisa horrível. Experimentar as várias formas que a resistência assume, algumas cruéis, muitas vezes me causa sofrimento, em um nível ou outro. Tenho um registro de nosso tempo juntos e fiz uma análise profunda e sincera. Entristeceu-me a até me chocou, mas foi-me útil para enfrentar a verdade. Recordo primeiro ano e os três primeiros meses como nosso único período feliz. Isso foi a abertura, e foi linda. Depois, houveram as separações, com os desligamentos arrebatados e para mim inexplicáveis e a igualmente terrível evitação-resistêncial em sua volta. Longe e apartados ou juntos e apartados é uma situação por demais infeliz. Estou me observando virar uma criatura que chora muito, pois quase parece que a compaixão é necessária antes que a bondade seja possível. E sei que não cheguei até este ponto da minha vida para me tornar digna de compaixão. Encarando os fatos tão honestamente quanto me é possível, sei que não posso continuar, não importa o quanto deseje; não posso me inclinar ainda mais. 

Espero que você não considere isso como o rompimento de um acordo, mas sim como a continuação de muitos e muitos finais que você tem iniciado. Acho que é uma coisa que ambos devemos saber. Eu devo aceitar que fracassei em meu esforço de fazê-lo conhecer as alegrias da afeição. Richard, meu precioso amigo, isto é dito suavemente, até mesmo ternamente, e com amor. E os tons suaves não servem para camuflar uma raiva por trás; são autênticos. Estou simplesmente tentando compreender e estancar a dor. Estou enunciando o que fui forçado a aceitar: que você e eu nunca teremos um desenvolvimento, muito menos a gloriosa expressão climática de um relacionamento desenvolvido ao máximo. Tenho sentido que se alguma coisa em minha vida merece um afastamento de padrões anteriormente estabelecidos, indo além de todas as limitações conhecidas, foi justamente o nosso relacionamento. Suponho que poderia justificar por me sentir humilhada por todos os meus esforços para que desse certo. Em vez disso, porém, sinto-me orgulhosa de mim mesma e contente por saber que conheci a rara e maravilhosa oportunidade que desfrutamos enquanto a tivemos. Dei tudo o que eu podia, no sentido mais puro e elevado, a fim de preservá-la. É o que me conforta agora. Neste momento horrível do final, posso sinceramente dizer que não conheço nenhuma outra coisa que poderia fazer para nos levar ao lindo futuro que poderíamos ter. Apesar do sofrimento, estou feliz por tê-lo conhecido desta maneira tão especial e sempre guardarei na memória o tempo que passamos juntos. Cresci com você e aprendi muito. Sei que também fiz grandes e positivas contribuições a você. Ainda sou sua amiga, como espero que você um dia possa vir a ser meu amigo. Envio esta carta com um coração repleto do mais profundo e terno amor, com toda a consideração que tenho por você, impossível de ignorar, além de um imenso pesar por ficar incumprida uma oportunidade tão cheia de promessa, tão rara e tão bela. 
 
Leslie Parrish 

Achei a íntegra da carta aqui, mas sei que ela foi publicada em um dos livros de Bach. Completo a informação assim que obtiver mais detalhes.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Poesia Miojo

Poderia falar de caminhos
Perdidos ou achados
Passarinhos que deixam o galho

Poderia escrever em veludo
A suavidade dos meses
que emprestam brilho
A esses olhos sonhadores

Mas prefiro, amiga minha
brincar com palavras
e semear sorrisos na boca
que não deveriam
Jamais ter deixado.


Ganhei do A.B.
Obrigada, querido!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Carta para Priscilla

Caríssima Prill,

O primeiro impulso foi te escrever de próprio punho. Buscar endereço, código postal e selo. Escolher papel de carta e envelope. Procurar a caneta que não mancha e resgatar a caligrafia redonda e caprichada. Mas aí eu já cansei, como tenho cansado de tudo. Mais verdade seria dizer que tenho me cansado do nada. Aquele vilão da História Sem Fim que cismou de me atazanar a vida. 
Não, no alto de sua lindeza você não tem lido tudo errado. Eu odeio escrever ais-de-mim, mas por alguns muitos momentos era só o que me saía dos meus pensamentos tolos para o mundo. Entre aquelas vírgulas e pontos que lhe chamaram atenção, desejei desesperadamente despejar a carência então exagerada pelos 163 quilômetros de complicações fabricadas e pelos dez graus a menos de calor. Foi muito mais forte que eu, amiga, e me arrependo disso. Porque não fosse a distância, era eu que estaria num café cobrando sua presença, lembra? Mas hoje me sinto mais egoísta, mal resolvida e menos generosa. E depois dos seus recados, envergonhada.
Sim, minha querida, me envergonho das minhas fraquezas diante de demonstrações simples de carinho. Me toma inteira o constrangimento imediato daquele que vislumbra a própria tolice. Porque sim, é disso que se trata: são muitas e muitas tolices! Todo esse nada vilão do meu cotidiano se dissipa frente à primeira lembrança dos meus amores. E quantos e tantos maravilhosos são esses amores! Me destrói constatar que, por tão pouco, permito que esses amores desapareçam como que por trás daquela densa neblina avaloniana que maldigo toda fria manhã.
E por isso te agradeço, por essa reprimenda - ainda que involuntária - que me chama o juízo e me esfrega na cara amassada toda a fortuna esquecida. E tomo a liberdade de agradecer-lhe assim, para o mundo ver, porque você também é um desses amores. Daqueles intensos e deliciosos e que não se deve dar o luxo de perder de vista só por causa da distância. Acredite, estou bem. E prometo me lembrar mais vezes disso. Também te adoro, minha querida!

Com muitas saudades,
Cláudia

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Uma Janela e sua Serventia

Hoje me parecem novos estes campos
e a camisa xadrez do moço,
só na aparência fortuitos.
O que existe fala por seus códigos.
As matemáticas suplantam as teologias
com enorme lucro para minha fé.
A mulher maldiz falsamente o tempo,
procura o que falar entre pessoas
que considera letradas,
ela não sabe, somos desfrutáveis.
Comamo-nos pois e a desconcertante beleza
em bons bocados de angústia.
Sofrer um pouco descansa deste excesso.

Do novo livro de Adélia Prado, A Duração do Dia. (via @memoriaviva)