sexta-feira, 22 de abril de 2005

Posso falar do Michael também?

Dois casos recentes e massivamente divulgados na mídia estão me fazendo refletir sobre a paternidade. Não o papel do pai, como a palavra ligeiramente machista faz parecer, mas dos pais. É claro que vou me referir a situações extremas, mas se não pudermos tentar aprender com o erro dos outros, como é que fica?

Começando pelo caso Michael Jackson. O cara recusa-se a crescer desde os 10 anos de idade. Parece um mutante esbranquiçado e já se falou inclusive que ele tem uma espécie de bolha anti-bacteriana em casa (tipo aquela onde o excêntrico Volpone Latorraca passava as noites). Mesmo que não tenha havido nenhum escândalo sexual antes para ligar o sinal de alerta, você deixaria seu filho passar uma tarde na casa de uma figura dessas? Tudo bem, o cara é um astro, mas deixaria mesmo assim? E depois de ter estourado o primeiro escândalo, ou seja, deixou de ser uma mera questão de excentricidade para ser pedofilia, mas você, pai ou mãe, continua achando que não tem problema algum? Que foi intriga da mídia? Tá bom, vou direto ao ponto. Os pais que permitiram as estadias de seus filhos em Neverland são tão culpados quanto o popstar. São co-responsáveis porque permitiram que o evitável acontecesse pensando em faturar um futuro tranqüilo com os presentes que Michael Jackson habituou-se a distribuir nessas situações. Agora a vida (e a sexualidade) desses meninos está nua e cruelmente exposta. Existirá um rótulo em suas testas para sempre fazendo com que as pessoas lhes olhem e digam: "tadinho, ele foi bolinado pelo monstro pedófilo do Michael Jackson..." Muitos pais aceitaram mais que "presentinhos": fartas quantias de dinheiro para não denunciarem o astro. Dá até medo de dizer exatamente o que estou pensando. Michael já está sendo julgado e tenho certeza de que dificilmente ele sairá deste episódio sem uma seqüela incômoda e incurável. Agora, os pais de todas aquelas crianças deveriam ser julgados também. E com o mesmo rigor.

A outra situação que me chocou foi a declaração infeliz da mãe de um dos universitários da PUC-Campinas acusados de estupro. Ela disse que o filho não tem culpa porque foi provocado pela estudante que estaria bêbada. Por mais que essa mãe esteja profundamente abalada, não dá para deixar isso passar. Em várias passagens das nossas vidas vemos pais dizendo que os filhos não erram. E acredito mesmo que apoiar alguém que amamos num momento extremamente difícil como uma prisão não é crime algum, mas daí a querer passar por cima dos limites da humanidade é uma estupidez. Aprendi que a liberdade de uma pessoa termina quando começa a de outra. Isso é viver em sociedade. Agora, o que aprendeu esse rapaz que pode abusar sexualmente e espancar uma garota só porque ela o provocou? E mais, o que é provocar? Dançar, beber, sorrir, olhar, seduzir? Mesmo que ela tenha tirado a roupa na frente da universidade inteira, isso lhes dá o direito de fazer o que fizeram? Essa mãe educou um homem ou criou um bicho, que não consegue controlar seus instintos e precisa satisfazer suas necessidades a qualquer preço?

O que estamos ensinando aos nossos filhos? Que o dinheiro compra o nosso silêncio quando nos convém e paga tanto a terapia quanto o advogado? É assim que vai ser? Quantos escândalos teremos que ver ainda para repensarmos os valores que aplicamos dentro de nossas casas, na teoria e na prática? Não é minha intenção ser a dona da verdade, mas me entristece muito perceber que não conseguimos aprender com os erros dos outros e evoluir como sociedade. Uma pena. Resta-me agradecer a Deus pelos pais que tenho, que na sua simplicidade fizeram (e ainda o fazem até hoje) o que estava ao seu alcance para nos ensinar sobre o respeito aos outros e a diferença entre o certo e o errado, nos dando a liberdade de escolher e nos ensinando a responsabilidade conseqüente de cada escolha. Espero de coração, que eu consiga um dia ser como eles.

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