A aproximação do Festival de Cannes e a estréia mundial de O Código Da Vinci estão mexendo com os ânimos mundo afora. Manifestantes religiosos – principalmente os católicos – mostram-se mais indignados do que nunca com o filme e protestos pipocam por toda parte. Acho tudo isso muito curioso. É claro que os católicos devem sentir-se mais ofendidos e atingidos pelas teorias lançadas por Dan Brown, mas estas teorias interfeririam também na brio de outros fiéis não católicos e, pelo menos eu não tenho visto nenhum deles manifestar-se sobre o assunto (se alguém tiver visto algo, me fale, agradeceria muito!). Digo isso porque alguns protestantes autodenominam-se cristãos, apoderaram-se do termo e isso me incomoda muito, mas não vem ao caso aqui. Logo, eu pergunto, porque estes não se ofenderam nem com o livro nem com a iniciativa de produzí-lo no cinema, onde ele certamente vai atingir um público maior do que pela via literária? Juro que não entendi. Quer dizer que um autor pode falar o que quiser de Jesus Cristo ou dos Evangelhos contanto que fale mais mal da Igreja Católica, é isso? Não quero arrumar briga com ninguém, apenas entender, ok?
Eu devorei os dois romances religiosos de Brown (li em seqüência o Código Da Vinci, Anjos e Demônios e Fortaleza Digital, longe de gostar deste último). Até escrevi a respeito aqui. Particularmente eu acho que ele foi muito mais feliz abordando o tema dos mistérios da simbologia renascentista e o catolicismo do que com a criptografia. Para mim isso nada mais é do que um sinal de que as defesas de suas teorias, alardeadas pelo próprio em entrevistas sobre os seus livros, não passam de puro marketing. E nisso ele foi infinitamente mais bem sucedido do que na condução dos enredos dos livros em si. Eu prefiro continuar tratando fé separadamente de religiosidade. Em minha biblioteca, as obras em questão continuam classificadas como romances e ainda acho divertido seguir os passos de Langdon em suas aventuras pelo espaço e pelo tempo. Simples assim.
O que é interessante nisso tudo é que muita gente passou a acreditar na verdade dos romances. Outros tantos chegaram a perder um tantinho de fé ou fidelidade para com a Igreja Católica. Debates ferrenhos promovidos por especialistas instantâneos em doutrina religiosa se multiplicaram como refrão de música baiana em época de carnaval. Em compensação a Igreja mostrou que não está morta e colocou na rua muita gente que não saiu de casa para protestar contra a fome ou reivindicar igualdade social, igualdade entre os povos ou seus direitos civis. Desde abril, além das manifestações propriamente ditas, temos visto de tudo: a Igreja chamando o mundo de ignorante (“a ignorância aumenta a popularidade d’O Código’”), deputados que resolveram ir trabalhar para impedir a veiculação do filme (acreditem se quiser, o orçamento da União só foi aprovado mês passado, mas a exibição de um filme é uma pauta urgentíssima que vai mexer profundamente com o futuro da sociedade brasileira), contra-ataques com revelações bombásticas sobre os segredos da Opus Dei, notas sobre lançamentos de inúmeros livros afins e sabe-se lá mais o quê.
Acho que o grande mérito dessa celeuma toda seria se ela ajudasse na recuperação do nosso senso crítico, reavivasse nossa capacidade de ler algo e refletir sobre o que está sendo dito, de questionar, mesmo as verdades absolutas herdadas de outras gerações, de outros séculos. Que exercitássemos a busca por alternativas e deixássemos de ser vaquinhas de presépio de políticos, empresários e até do traficante da esquina. Não tem jeito: sempre acabo na utopia... argh!
Para encerrar, destaque para um dos lançamentos-carona: O Código Aleijadinho (Muller, Leandro. Editora Espaço e Tempo) será lançado ainda em maio e o melhor, o livro tem um trailer!!! Taí:
Eu devorei os dois romances religiosos de Brown (li em seqüência o Código Da Vinci, Anjos e Demônios e Fortaleza Digital, longe de gostar deste último). Até escrevi a respeito aqui. Particularmente eu acho que ele foi muito mais feliz abordando o tema dos mistérios da simbologia renascentista e o catolicismo do que com a criptografia. Para mim isso nada mais é do que um sinal de que as defesas de suas teorias, alardeadas pelo próprio em entrevistas sobre os seus livros, não passam de puro marketing. E nisso ele foi infinitamente mais bem sucedido do que na condução dos enredos dos livros em si. Eu prefiro continuar tratando fé separadamente de religiosidade. Em minha biblioteca, as obras em questão continuam classificadas como romances e ainda acho divertido seguir os passos de Langdon em suas aventuras pelo espaço e pelo tempo. Simples assim.
O que é interessante nisso tudo é que muita gente passou a acreditar na verdade dos romances. Outros tantos chegaram a perder um tantinho de fé ou fidelidade para com a Igreja Católica. Debates ferrenhos promovidos por especialistas instantâneos em doutrina religiosa se multiplicaram como refrão de música baiana em época de carnaval. Em compensação a Igreja mostrou que não está morta e colocou na rua muita gente que não saiu de casa para protestar contra a fome ou reivindicar igualdade social, igualdade entre os povos ou seus direitos civis. Desde abril, além das manifestações propriamente ditas, temos visto de tudo: a Igreja chamando o mundo de ignorante (“a ignorância aumenta a popularidade d’O Código’”), deputados que resolveram ir trabalhar para impedir a veiculação do filme (acreditem se quiser, o orçamento da União só foi aprovado mês passado, mas a exibição de um filme é uma pauta urgentíssima que vai mexer profundamente com o futuro da sociedade brasileira), contra-ataques com revelações bombásticas sobre os segredos da Opus Dei, notas sobre lançamentos de inúmeros livros afins e sabe-se lá mais o quê.
Acho que o grande mérito dessa celeuma toda seria se ela ajudasse na recuperação do nosso senso crítico, reavivasse nossa capacidade de ler algo e refletir sobre o que está sendo dito, de questionar, mesmo as verdades absolutas herdadas de outras gerações, de outros séculos. Que exercitássemos a busca por alternativas e deixássemos de ser vaquinhas de presépio de políticos, empresários e até do traficante da esquina. Não tem jeito: sempre acabo na utopia... argh!
Para encerrar, destaque para um dos lançamentos-carona: O Código Aleijadinho (Muller, Leandro. Editora Espaço e Tempo) será lançado ainda em maio e o melhor, o livro tem um trailer!!! Taí:
2 comentários:
Olha só que coincidência: hoje mesmo escrevi um post sobre o filme baseado no livro de Dan Brown! Aí, resolvo dar um pulinho aqui, e vejo este seu ótimo texto! :-)
Em fevereiro, quando terminei de ler "Ponto de Impacto", escrevi um texto sobre este sucesso fabuloso alcançado por Brown. Os livros dele encabeçaram todas as listas de mais vendidos por um bom tempo.
Na minha opinião, como leitora, "O Código Da Vinci" foi o melhor. Talvez por causa do tema instigante e da abordagem polêmica. Os outros vieram no "vácuo" do sucesso do antecessor e, como o modelo de trama era semelhante, acabava conduzindo a uma certa previsibilidade.
Estou bastante curiosa para assistir à montagem feita para o livro. Só não vou logo na sexta porque as filas dos cinemas deverão estar rocambolescas! :-)
Beijos!
Dani..
deixa eu apenas te corrigir em algo que li na revista Veja.Fortaleza Digital,Anjos & Demonios e Ponto de Impacto foram escritos antes do "código" e com vendas pífias.Com o sucesso do "código", eles foram relançados e também se tornaram best-sellers.
Belo texto mesmo Clau !
Bjs
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