quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Não preciso mais de você

No último dia 05, o O Globo publicou em sua versão eletrônica uma entrevista com o psicólogo Flávio Gikovate por ocasião da publicação do seu livro “Uma nova visão do amor”. Resumindo o já resumido, o psicólogo afirma que “só será feliz no amor aquele que se libertar do seu ideal romântico” e que “o amor se funda da aproximação de duas individualidades e não na sua fusão”. 

O que eu costumo dizer em conversas com amigos é que nossa geração é uma geração de mimados. Ou as coisas são do jeito que queremos ou simplesmente não são. Lidamos assim com muitas coisas, incluindo o casamento. Se não temos as deliciosas aventuras das comédias românticas que vemos na TV, partimos para outra. Diversas vezes já ouvi pessoas que tenho na mais alta conta falando de algum defeito do amado como algo que virá a mudar em breve. “Aos poucos eu vou conversando com ela e um dia a gente muda isso” foi o que ouvi uma vez. Esse namoro, propriamente dito, não durou mais do que três meses. Somos uma geração de separados e, como somos OS descolados, chegamos ao ponto patético e deprimente de celebrar a separação (se não acredita, veja aqui). 

Não que eu concorde com o senhor Flávio Gikovate em tudo, até porque não li o livro, mas a questão da aproximação das individualidades ficou martelando na minha cabeça. Ele contradiz a máxima dos opostos que se atraem e afirma que um relacionamento tem mais chances de dar certo se maiores forem as afinidades de caráter, gostos, interesses e projetos de vida. Isso faz um pouco de sentido porque na prática, fatalmente chegará um dia em que um não renunciará mais seus interesses em favor do outro – somos uma geração de mimados, como eu falei há pouco. O que nos atraía, no final nos irrita e aborrece. Então nada melhor do que estar com alguém que curta as mesmas coisas, que pense parecido. 

Partindo das afinidades, o “querer estar junto” vem fácil. Não é só o arrepio da espinha que passa com uma semana de joguinhos de conquista que não são mais mistério para ninguém. É a vontade da companhia divertida, do pensamento encadeado, de novos pontos de vista para um velho assunto. Acaba o era do “eu preciso de você” ou “eu não existo sem você” e inicia-se a dinastia do “estou com você porque gosto e porque quero, não porque preciso”. Perceberam o quanto isso é libertário? É o fim da fatídica metade. Não se procura mais por alguém que nos complete, mas alguém que nos complemente. Assim, posso encher o peito e alardear que não sou mais uma 1/2 laranja, como dizia Fábio Jr., e melhor: eu não mereço nada menos do que simplesmente um amor que seja bom pra mim, à la Roberto Frejat.

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