domingo, 3 de abril de 2005

Adeus, ou à Deus, João de Deus

Não dá pra negar que o catolicismo influenciou bastante minha educação. Foram dez anos no Colégio Santa Maria, escola católica gerida por freiras franciscanas o que me levou à freqüentar e participar ativamente das atividades paroquianas por praticamente toda a minha adolescência. Depois me distanciei. À medida que evoluía meu conhececimento de história mundial, passei a encarar o catolicismo de forma diferente e meu próprio pensamento crítico me fez questionar ritos e posicionamentos católicos na prática frente à realidade moderna. Mas isso não foi o suficiente para me fazer deixar de ser católica. Tenho que reconhecer que isso se deve em grande parte ao carisma pessoal de Karol Wojtyla. Não que ele seja “pra frentex”, mas seu conservadorismo nunca me surpreendeu. Eu esperava isso de um Papa. O que sempre me fascinou foi sua simplicidade aliada à sua erudição. O Papa peregrino, o Papa do Terceiro Mundo, o Papa do diálogo entre as religiões.

"Se ficasse no Vaticano, como a Cúria gostaria que fizesse, então ficaria sentado em Roma escrevendo encíclicas, que seriam lidas apenas por um punhado de pessoas." (sobre as viagens, 1982)


"O homem é muitas vezes tratado como mero instrumento de produção, como uma matéria-prima que deve custar o mínimo possível. Em situações como essa, o trabalhador não é respeitado como um autêntico colaborador do Criador." (na Coréia do Sul, 1984)

Entendem do que estou falando? Fico triste com sua morte, como quem perde o tio velhinho ou o avô. Triste pela falta que ele vai fazer. Triste pela dúvida que fica sobre o que será a Igreja pós João Paulo II. Ao mesmo tempo acho que ele fez o que tinha que fazer em seu tempo. Missão cumprida. Espero que seu legado seja respeitado, levado à sério, posto em prática e que permita a evolução da Igreja pelo bem de 1 bilhão de fiéis que acreditam na doutrina católica.

Uma curiosidade: a mídia brasileira vem destacando a “papabilidade” do Cardeal brasileiro Claudio Hummes. Achei essa barra um tanto forçada, mas não é que verdade? De todos os sites de notícias que consultei para verificar essa questão, ele só não foi mencionado no Guardian. Todos os outros, na Europa, nos EUA e na América Latina, falam do brasileiro como um nome viável entre uma dúzia de outros papáveis. Particularmente, e considerando o ritmo evolutivo da igreja, acredito que ainda é cedo para vermos um Papa latino-americano. É esperar pra ver.


Acabou de começar o Fla-Flu. Foi de arrepiar o Maraca cantando “A benção, João de Deus”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gramaticamente correto é: a Deus (sem crase).